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A poucos metros do município de Pontal do Araguaia, divisa com o estado de Goiás, desce abrupto o rio Araguaia, um dos maiores rios de Mato Grosso, tributário da Bacia do Amazonas. O rio, que é conhecido pela presença de areia em toda a sua calha, formando praias imensas no período de seca, entra nos vales da região e vai cortando as rochas, desenhando fendas de vários tamanhos.
Passa por uma área de cerca de 100 km até o município de Torixoréu, espremido por formações geológicas estranhas, como se a terra tivesse passado por um trauma de grandes proporções, um choque estelar. Foi mais do que isso, a região foi a mais atingida pelo maior choque de meteorito que o planeta verde já teve. Ao observar o rio nesta região, dá para se ter uma idéia da riqueza geológica do local e que deu o nome na região de “Alcantilado do Araguaia”.
A cratera é formada por um núcleo de 40 km de diâmetro, onde o meteorito caiu e formou dois grandes anéis de rochas fundidas e contorcidas, que totalizam aproximadamente 1,300 mil quilômetros quadrados. Essa deverá ser a área onde o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) pretende criar ainda este ano uma nova Unidade de Conservação (UC).
Segundo técnicos do órgão que estão à frente dos estudos no local, o “Domo de Araguainha”, como é conhecido internacionalmente, deverá ser considerado oficialmente o primeiro monumento natural do Brasil.
Desde 1964, geólogos da Alemanha, França, Japão e Estados Unidos visitam a região de Araguainha investigando que fenômenos de grandes proporções teriam causado tantos transtornos geológicos naquele lugar. No início, os geólogos acreditavam que a área teria sofrido grandes atividades vulcânicas mas, a partir de 1973, os americanos Dietz e French apresentaram a hipótese de que a formação do domo teria sido causada por um impacto de corpo celeste de grandes dimensões contra a superfície da Terra.
Antes disso, em 1970, técnicos da Petrobrás identificaram que as camadas de rochas sedimentares da Bacia do Paraná, situadas na região, estavam arqueadas devido a ascensão de um núcleo de granito que hoje aparece no centro da cratera e apelidaram o local de Domo de Araguainha. Mas ainda não havia provas de que naquele lugar a terra sofrera um grande impacto por queda de uma meteorito.
Em 1978, o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Álvaro Crósta chegou à região e iniciou suas pesquisas de mestrado junto ao Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, pela primeira vez, conseguiu provas de que ali teria havido um dos maiores choques que o planeta teve com um meteorito.
“Essa estrutura era, até então, tida como de origem ígnea (da natureza) e graças aos resultados que obtive nessa pesquisa ficou demonstrada a origem por impacto”, diz.
Foram usados mapeamentos geológicos, análises petrográficas de amostras de embasamentos graníticos e das brechas nas rochas da Formação Furnas.
Uma outra forte evidência é a ocorrência de rochas com formações de shatter cones de arenito, como se fossem estrias nas pedras. Crósta diz que os estudos continuam na região, pois existem sinais de fenômenos geológicos combinados e posteriores ao choque, como os vulcânicos, e que tempos depois teria separado os continentes. O pesquisador não parou mais de estudar o domo.
Tem doutorado na Inglaterra e atualmente é professor titular de Geologia da Unicamp e também diretor do Instituto de Geociências da universidade.
O meteorito que caiu na região de Araguainha tinha entre 2 km a 2,5 km de diâmetro. Mesmo sendo brecado pela atmosfera, bateu no solo a uma velocidade de 60 mil km/h, um impacto equivalente à intensidade de 1 milhão de bombas nucleares.
Abriu-se uma cratera enorme que pode ter chegado a 7 km de profundidade, lançando material rochoso (fragmentos de rochas, rochas fundidas e poeira) a dezenas de quilômetros de altitude, alcançando a atmosfera da Terra e fora do planeta.
A poeira pairou por cerca de 2 meses.
Segundo o professor, o choque pode ter sido um dos motivos da maior extinção de vida na Terra ocorrida há 250 milhões de anos e que dizimou cerca de 70% de todas as formas de vida.
“Naquela época, a região certamente era uma plataforma marinha rasa, pois existem muitas evidências de tipos de sedimentos com fósseis marinhos”, diz.
Mas difícil mesmo é identificar amostras do meteorito, pois os estragos no solo e as formações geológicas que surgiram logo em seguida ao choque foram erodindo com o tempo.
“É uma cratera antiga portanto difícil de recuperar vestígios. A cratera formada já não tem mais de 1 quilômetro de profundidade”, comenta o cientista.
Como o material rochoso subiu como se fosse larva vulcânica e foi jogado para fora, sedimentou-se como se fosse uma cúpula ou um prato fundo virado para baixo. Por isso leva o nome de domo.
O “Domo de Araguainha” é hoje um complexo de rochas contorcidas, nascentes de córregos da bacia do rio Araguaia.
Ao caminhar pelo local, percebe-se que rochas imensas foram lançadas com violência ao solo e ficaram como se estivessem suspensas, muitas parecem ter sido quebradas, fatiadas ou mesmo encaixadas em outras pedras menores. O tempo, clima e ventos delinearam formas únicas.
Um dos pontos mais conhecidos é a janela do universo, um mural de rochas com uma grande fenda ao meio. No centro do Domo, dentro da histórica fazenda Pedras Altas, uma escultura natural impressionante é o labirinto de pedras, no alto da morraria.
Parece ter sido encaixado no local, pedra ao lado de pedra, muito difícil de chegar até elas por causa das fendas profundas, cerrado fechado e marimbondos.
O “Domo de Araguainha” se transformou em um dos mais importantes laboratórios geológicos do planeta. Álvaro Crosta diz que esse tipo de cratera é rara na Terra “porque tem registrado um passado muito antigo, anterior à existência dos dinossauros, quando existia apenas um supercontinente.
O pesquisador comenta que muita coisa já se perdeu por causa do dinamismo de fenômenos geológicos que ocorreram após o choque, mesmo assim o potencial científico do local é imensurável.
Na atualidade existem no local estudos sobre a presença de um campo magnético invertido (Geofísica), a presença de bombas hematitas (pedras de ferro fundido) e pesquisas ligadas a Astronomia.
Desde o início da década de 90 foram feitas inúmeras solicitações de cientistas nacionais e internacionais para que o “Domo de Araguainha” seja reconhecido como monumento geológico brasileiro e um patrimônio da humanidade. A principal recomendação é da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleontológicos (Sigep). Até 2006 haviam registradas 150 crateras na Terra, 11 na América do Sul.
A mais famosa delas e que recebe mais de 1 milhão de turistas por ano fica no estado americano do Arizona, chamada Barringer, com 50 mil anos.
O “Domo de Araguainha” é hoje um complexo de rochas contorcidas, nascentes de córregos da bacia do rio Araguaia, cavernas e vales bem delineados. No solo, diversos tipos de rochas podem ser encontradas, principalmente o granito, que hoje só é encontrado na região numa profundidade entre 1 e 2 km, mas com o choque foi jogado para cima da cratera e pode ser encontrado em até 20 km de distância do centro. Outro tipo de rocha que chama a atenção de moradores e pesquisadores são as bombas hematitas, uma anomalia de irídio fundido.
No entorno do núcleo, o astroblema, como é chamado pela ciência, forma dois anéis de morros disformes e cobertos pelo cerrado bem conservado da região. Se for vista numa altura de 36 mil pés (altura de um Boeing), os anéis da cratera demonstram facilmente que foram formados como se a Terra tivesse rachado no núcleo e espremido o solo em seu entorno. Tudo ficou deformado e como que derretido pelas rochas.
Ao caminhar pelo local, percebe-se que rochas imensas foram lançadas com violência ao solo e ficaram como se estivessem suspensas, muitas parecem ter sido quebradas, fatiadas ou mesmo encaixadas em outras pedras menores. O tempo, clima e ventos delinearam formas únicas. Um dos pontos mais conhecidos é a janela do universo, um mural de rochas com uma grande fenda ao meio.
No centro do Domo, dentro da histórica fazenda Pedras Altas, uma escultura natural impressionante é o labirinto de pedras, no alto da morraria. Parece ter sido encaixado no local, pedra ao lado de pedra, muito difícil de chegar até elas por causa das fendas profundas, cerrado fechado e marimbondos.
Confira a integra da matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp
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